sábado, 16 de outubro de 2010

Ranking das escolas

Todos os anos, quando sai o ranking das escolas, dá-me cá uns nervos que nem vos digo! Nem consigo acreditar que isto se continue a fazer. Comparar realidades que são incomparáveis é algo que foge totalmente à minha compreensão. Ainda se houvesse um ranking das privadas e um das públicas vá lá que não vá, agora pôr tudo no mesmo saco é de uma profunda irresponsabilidade.
Ainda que pense deste modo, porém, na qualidade de profissional do ensino, não deixo de ir espreitar as escolas por onde passei e as "que estão a dar"! A surpresa nunca é grande: as privadas lideram totalmente nos primeiros 50 lugares no ranking e este facto não se trata de um acaso. Estou à vontade para discutir este assunto, pois já leccionei no ensino particular durante 2 anos e trabalho no público há 8 anos intervalados. E quais foram as diferenças que observei:
No privado:
Vantagens:
- os alunos são, naturalmente, seleccionados. Ainda que estejamos em crise há largos anos, há colégios com listas de espera de 3, 4, 5, 6, anos e por aí fora.
- os alunos pertencem à classe média alta e alta, o que lhes abre múltiplas possibilidades em termos de acesso à cultura e ao conhecimento; todos os alunos frequentam actividades extra-curriculares e a generalidade dos mesmos começou a viajar em tenra idade (isto da minha experiência, obviamente);
- a generalidade dos encarregados de educação têm formação académica superior, o que faz com que estejam mais alerta para a importância de uma boa educação e formação e as valorizem;
- as turmas não costumam ultrapassar os 20 alunos e este aspecto faz toda a diferença;
- os professores são dedicados e empenhados, pois sabem que o seu trabalho é vigiado de perto, até porque nos privados o número de docentes é manifestamente inferior e há uma relação de maior proximidade com o "patrão";
- os privados apostam muito numa formação integral e as saídas e visitas de estudo são uma constante;
- em termos de segurança, a vigilância é apertada.
- os recursos físicos são, geralmente, bons;
- a qualidade tem de forçosamente existir, pois dela depende a satisfação dos pais que pagam as propinas e mantêm o negócio.
Desvantagens:
- o facto de haver um certo elitismo e uma distorção da realidade: em sociedade, nem todos viajamos, vivemos num condomínio de luxo e temos um veiculo ou 2 topo de gama;
- a engenharia financeira que algumas famílias fazem para manter os filhos por lá;
- há alguns professores cuja selecção se deveu à rede de contactos pessoais que o mesmo têm, a comum "cunha", que no privado é notória; isto implica que haja professores por vezes pouco habilitados para as funções que exercem (economistas ou engenheiros a darem Matemática, por exemplo), ou seja, que não são profissionais do ensino; ainda há situações de professores que não tiveram média que lhes permitisse leccionar no publico e ficaram por ali (embora haja excelentes professores no particular, que simplesmente optaram pela estabilidade que o mesmo oferece e que não existe no ensino público e eu conheço alguns, felizmente).
No público:
Vantagens:
- se o privado é só para alguns, o público é para todos! A gratuitidade, ou quase gratuitidade, é a maior vantagem;
- o público prepara melhor os alunos para enfrentar a realidade e as adversidades;
- os melhores professores estão no público, não tenho muitas dúvidas a esse respeito, o que não implica que sejam os mais profissionais;
- e...é só, na minha perspectiva.
Desvantagens:
- Por onde começar?
- Turmas de 30/32 alunos, um pavor; é impossível, por muita competência e boa vontade que o professor tenha, atender a todos com qualidade;
- não há selecção dos alunos, há que aceitar todos (e muito bem, na minha óptica);
- na mesma turma temos alunos de todas as classes e todos os estratos e isso implica uma verdadeira gestão por parte dos professores: há coisas que não podemos propor sequer pois sabemos à partida que muitos deles não conseguirão aderir porque os pais não têm possibilidade de lhes proporcionar determinadas coisas e isso deixa-me muito amargurada, uma vez que todos deviam ter as mesmas oportunidades;
- a segurança e condições físicas deixam muito a desejar;
- os encarregados de educação são, regra geral, menos atentos em relação à escola.
Resumindo, ainda que o ranking seja uma palhaçada, se a questão financeira não fosse uma barreira, o privado seria a minha opção, pois, ao contrário do ensino superior, é nas escolas privadas que está a qualidade, uma qualidade que as escolas públicas estão longe de atingir pois têm de lidar com uma série de constrangimentos alheios às privadas. E quem puder fazer um esforço para pôr os filhos a estudar numa boa escola privada é o melhor que faz, pelo menos nos anos iniciais do ensino básico, que são fulcrais para todo o seu percurso. Se os alunos criarem hábitos de trabalho e rotinas de estudo, mais tarde, se forem para a escola pública manterão os bons níveis. É o que eu tenho observado, o único 5 que dei no ano passado foi a uma aluna que veio do privado.
No fundo, é tudo uma questão de prioridades: há quem prefira arrecadar bens e coisas e se esteja a borrifar para a educação, formação e bem estar dos filhos. Cada um deve fazer essa gestão e definir o que quer valorizar. Para mim, talvez por ser professora, nada é mais importante do que a formação dos meu filho, a educação é a cana para que mais tarde possa pescar, e espero poder ter as "armas" necessárias para fazer uma boa escolha. O que é mais injusto é que a questão financeira não devia limitar as nossas opções, todos devaim ter as mesmas oportunidades...independentemente de poderem ou não pagar pelas mesmas.

1 comentário:

Teresa disse...

Assino totalmente por baixo!