segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Coisas que nos deixam com um nó na garganta

No ano passado a minha escola ficou de luto. Uma colega minha, acabadinha de entrar nos 40 anos, certo dia apalpou o pescoço e encontrou um alto, que mais parecia uma espinha infetada. Estávamos no Natal e já não regressou para o 2º período. Diagnóstico: cancro. Ela lutou, achou que ia a tempo de se salvar, chegou a dizer às colegas que a foram visitar a casa que dentro de dias regressaria ao trabalho. Pouco tempo depois partiu. Deixou dois filhos: um menino com 12 anos e uma menina com 7 ou 8. Era uma família feliz, que de um dia para o outro foi esventrada por um acaso do destino.
Quando cheguei à escola este ano soube que o filho dela seria meu aluno. Ele é um menino bem disposto, aparentemente feliz...mas tem aquele olhar sofrido, sem brilho. Tem um super pai, que está sempre presente, porém acredito que nada preencha aquele vazio. Apetece-me sempre abraçá-lo, penso constantemente na história dele, no que representa. É difícil olhá-lo sem comoção; é difícil conter a vontade de o confortar; é difícil dar aulas à turma, com medo de que possa dizer algo que possa reavivar as suas memórias; é difícil dizer a palavra mãe, sabendo que já a perdeu. Ela deverá estar do lado dele, ampará-lo em todos os momentos, sinto, sei que está lá. Ninguém deveria ter de passar pelo que ele passou. Ninguém.