Graças a Deus desta vez não fiz parte da estatística dos professores que ficaram sem colocação. 37000, é desesperante. Fiquei na escola do ano anterior, fui recebida com abraços e sorrisos, reconheci rostos e não há nada mais gratificante do que voltar a um local que sentimos nosso. E no in between cruzei-me com colegas, que fizeram parte da minha vida durante um ano, com quem partilhei alegrias e tristezas, que não se encontravam lá para celebrar, mas para levantar os papeis para o desemprego. E lamentei por eles e por todos nós.Tantos anos investidos, anos em que poderíamos ter feito tanta coisa, mas tudo sacrificamos por um sonho, pelo conhecimento e pelo reconhecimento que nunca chegou. Fizemos tudo certo, na confiança de que haveria a recompensa da segurança futura, mas valeu de muito pouco. Resta a cultura, o canudo que atiramos para o fundo de uma gaveta a ganhar mofo como se nada representasse, a memória dos anos inesquecíveis que vivemos, dos amigos que fizemos e que perdemos com a distância, a rotina, o definir de novas etapas. E como tenho saudades dos tempos em que a minha maior preocupação era o que iria vestir para uma noite de farra e de copos (os meus eram mais de coca-cola). Tudo é mais simples quando somos jovens e inconsequentes. Crescemos, entretanto, e aprendemos que os contos de fada acalentaram apenas a alma e que a vida real é cruel, dura e crua, insípida muitas vezes de sentido e carcereira dos sonhos que já não nos permitimos ter. E, por isso, sinto um misto de felicidade e tristeza: alegria por ter um emprego para onde regressar, desânimo por perceber que ter um emprego com prazo de validade é tudo o que posso ambicionar.
O ano iniciou a doer, com muito trabalho na escola, mas é para isso que ali estou: para trabalhar. E trabalhei...muitas horas ontem, mais horas ainda hoje e vou trabalhar sempre com o mesmo afinco, porque por muito cansada que esteja não me posso lamentar, pois 37000 colegas meus gostariam de sentir hoje o meu cansaço.
Ontem foi também o dia em que o meu pequenino foi pela primeira vez à escola nova. Estava com o meu coração apertadinho, mas ele adaptou-se muito bem, deu-se de imediato às pessoas e agora acorda com vontade de ir para a "escola gira", como lhe chama. Os meus receios acalmaram-se e ainda que seja demasiado cedo para tirar conclusões parece-me que tomamos a decisão certa. É uma nova etapa...que seja excecional!